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Web Summit 2023: 6 insights do maior evento de inovação do mundo

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Luana Serabion
Hora Post 8 min de Leitura
Data Post 24 de novembro de 2023

Os números são impressionantes. Mais de 70 mil visitantes em 4 dias, 205 mil metros quadrados de área, 16 palcos, 25 trilhas diferentes de conteúdo, mais de 2.600 startups, representantes de 153 países. O Web Summit, maior evento de inovação e tecnologia do mundo, em Lisboa, é um evento que joga luz sobre o presente e elabora possibilidades para os possíveis futuros que poderemos encontrar.

Hoje trazemos 6 insights que poderão ajudar você a navegar por um futuro imprevisível, mas que certamente terá muito mais tecnologia embarcada. Então vamos lá?

Muito barulho por nada?

O grande assunto do evento, como não poderia deixar de ser, foi a Inteligência Artificial Generativa. Mas, como costuma acontecer no Web Summit, as discussões foram muito além dos aspectos de negócios. Logo na noite de abertura, Jimmy Wales, o fundador da Wikipedia, colocou as coisas em perspectiva. “Existe um alarmismo enorme em relação à IA Generativa, e já vimos isso acontecer com muitas outras tecnologias. Aconteceu com o eBay, aconteceu até mesmo com a Wikipedia, recentemente vimos isso com o Metaverso, e vai continuar acontecendo com qualquer tecnologia que prometa grandes transformações”, ponderou.

Para o especialista, o ChatGPT pode ter aplicações muito interessantes, mas nem de longe é uma solução universal. “Com a IA Generativa, é possível estimular a criatividade, mas não é uma ferramenta a ser usada para obter informações confiáveis. E o grande erro é achar que ela pode ser usada em aplicações para as quais ela não foi feita”, disse.

Esse ponto leva a uma discussão mais profunda sobre o uso de Inteligência Artificial em geral. Enquanto não houver uma IA Geral (e estamos ainda longe), as aplicações da tecnologia serão muito restritas – sistemas que farão muito bem uma determinada tarefa, mas serão muito ruins em outras atividades. “A IA em geral, e a IA Generativa em particular, parece assustadora, mas é somente mais uma ferramenta que temos à disposição. O que precisamos é ter a inteligência de usar o recurso mais adequado para cada caso”, disse Brad van Leeuwen, cofundador e COO da startup britânica Cledara.

Crie uma cultura de sucesso

Mais importante do que ter a ferramenta é saber o que fazer com ela. E, para isso, é necessário que a empresa tenha uma cultura que estimule a inovação e o aprendizado. “Com a IA, é preciso dar acesso e colocar limites, para que as pessoas saibam o que podem fazer, o que não é permitido e inovem a partir daí”, afirmou van Leeuwen. Para ele, uma cultura corporativa forte, que estimula a inovação e busca novas respostas para os problemas do dia a dia, educa seus colaboradores, faz com que as pessoas se sintam dispostas a aprender cada vez mais e cria um ecossistema com os parceiros. “Dessa forma, as pessoas aprenderão a trabalhar com as máquinas de forma cada vez mais integrada, em vez de acreditar que a IA vai destruir o mundo”, acrescentou.

Tenha senso de urgência

Nos últimos 12 meses, vimos a IA Generativa assumir uma posição de protagonista nos mapas de tendências, nos eventos e nas projeções de analistas de mercado. E o crescimento acelerado vai continuar. “Trabalhos que são muito manuais e podem ser feitos por máquinas mais rápido e melhor serão transformados muito rapidamente, mesmo em áreas que até recentemente não eram tão automatizadas”, afirmou Cristina Fonseca, managing partner da Indico Capital Partners, fundo de investimentos português.

Um exemplo dessa “invasão” da IA é o fato de que a vencedora do Pitch, o concurso de startups promovido durante o Web Summit, foi a brasileira Inspira. Seu foco? Usar Inteligência Artificial para ajudar advogados a trabalhar com mais eficiência e produtividade. Para Cristina Fonseca, a transição para um mundo impulsionado pela IA será muito mais rápida do que imaginamos. “Nos próximos dois anos, todos precisaremos aprender a trabalhar com um assistente digital”, acredita.

Acabaram-se os empregos?

Afinal, a Inteligência Artificial deixará o ser humano obsoleto e eliminará os empregos? A visão predominante no Web Summit foi que isso não acontecerá – o que não significa que o impacto não será grande.

“Não podemos falar sobre a IA eliminando os empregos, pois isso não vai acontecer”, disse Meredith Whittaker, CEO da rede social Signal. Para ela, é preciso tomar cuidado para não considerar a IA como uma tecnologia mágica que substituirá o ser humano. “A IA não nasceu para isso: o que ela faz muito bem é processar quantidades imensas de dados, em uma escala que seria impossível para nós”, explicou.

Albert Wenger, managing partner da Union Square Ventures, foi outro a apresentar uma visão positiva para a tecnologia. “A Inteligência Artificial pode liberar o ser humano de trabalhos desnecessários e dar mais tempo para fazermos atividades mais interessantes”, afirmou.

Em alguns segmentos, por sinal, a IA é muito bem-vinda. “Temos um déficit imenso de trabalhadores no segmento de transportes, que deverá aumentar nos próximos anos. Nesse caso, o aumento da eficiência trazido pela tecnologia diminui o gap de mão de obra que existe em todo o mundo”, disse Vincent Clerc, CEO da Maersk.

A Era do Conhecimento Aumentado

Com a interação cada vez maior da IA com o ser humano, porém, será necessário fazer o upskill dos profissionais, para que eles possam acompanhar a mudança do trabalho. “Onde estarão essas vagas ainda é difícil dizer, mas estarão lá, com certeza”, disse Vasco Portugal, cofundador e CEO da Unbabel, um dos unicórnios portugueses. “Isso acontecerá em um movimento de ‘augmented knowledge’, em que a tecnologia empodera as pessoas”, completou.

Michael Treff, CEO da Code and Theory, tem uma visão semelhante. “Podemos usar a IA como um todo para trazer mais eficiência para os negócios, mas também para empoderar as pessoas, permitindo que elas usem a tecnologia de uma forma melhor, com mais oportunidades de inovação”, acrescentou.

Tudo começa nos dados

A visão de longo prazo parece ser bastante positiva, mas para que ela aconteça é preciso superar obstáculos de curto prazo. E o maior desses obstáculos é a qualidade dos dados que alimentam os sistemas. “Toda tecnologia é construída sobre dados existentes, então tudo depende do tipo de informação que você tem em mãos”, disse Simone Berry, cofundadora e CEO da POClab. Para ela, a IA é uma ferramenta que expande o uso dos dados, permitindo que as pessoas trabalhem com mais criatividade e sejam mais artísticas no que fazem.

Mas a melhor alegoria sobre o uso de dados nas empresas veio de Christina Kosmowski, CEO da LogicMonitor: a IA pode ser tão mágica quanto o Messi jogando futebol, mas, nos dois casos, a magia só acontece se houver muita preparação. “Os dados precisam ser de boa qualidade, dentro de contexto e que permitam correlacionar informações”, comentou a palestrante.

Para ela, no futebol é preciso ter cobertura (capacidade de ver todo o campo), contexto (saber o que se pretende fazer com a bola nos pés) e correlação (identificar o caminho para levar a bola para o gol adversário). A Inteligência Artificial depende dos mesmos fatores. “Quanto mais dados de qualidade podem ser processados, melhor para entender o que vai acontecer e mais fácil encontrar o caminho para chegar aos objetivos”, comparou.

Por trás disso, porém, estão processos, infraestrutura, aprendizado com os dados e capacidade de inovação para seguir sempre avançando. “Por isso, todo ponto de contato e de coleta de dados importa. É preciso experimentar e fazer testes constantes para obter resultados”, completou.

E o que levamos do Web Summit?

Mesmo com uma edição 2023 dominada pela Inteligência Artificial, o Web Summit manteve sua vocação de ser um local de debates muito mais amplos. A tecnologia, afinal de contas, serve para ajudar o ser humano a trabalhar melhor e a ter uma vida mais feliz e saudável.

A IA traz grandes promessas e possibilidades, mas também levanta um alerta para o que pode acontecer se tecnologias cada vez mais avançadas não forem usadas corretamente. A transformação dos negócios e da cultura será rápida, e a hora para começar é agora. Os caminhos para o futuro da sociedade, das empresas e das pessoas ainda não estão traçados: todos nós podemos contribuir para a construção do que está por vir.

Certamente, os próximos anos verão um uso ainda mais intenso dos dados para análises e geração de inteligência – mas, para isso, as informações precisam estar bem construídas. As mudanças serão aceleradas, e precisamos estar atentos para aproveitar as oportunidades e nos destacarmos.

Fotos: Flickr Web Summit